18 setembro 2010

Mestre Figueiredo Sobral



Figueiredo Sobral (1926-1910)
in memoriam
Celebração do sagrado

"Se uma exposição ou, digo mais, uma obra se não impuser pela sua própria presença como bisonte de Altamira, não quero nada acrescentar."
F.Sobral

"Sou um surrealista barroco"
F.Sobral



 1. Conheci Figueiredo Sobral nos finais dos anos 90. Estava eu a iniciar-me na pintura já com algumas experiências intervaladas - principalmente desenho - de há 20 anos até então. Foi nessa altura que o convidei a ir a minha casa para visitar o meu atelier. Éramos praticamente vizinhos, ele morava na rua de Angola e eu na do Zaire na zona dos Anjos em Lisboa. Quiseram os caminhos que só nos encontrássemos naquela data. Desde então ficámos amigos. A partir daí encontrávamo-nos com frequência, desde o simples café até às patuscadas e mariscadas. Na troca de impressões sobre arte pude testemunhar ser um homem de sólida cultura artística, desde os antigos até às vanguardas. Era também habitual jogarmos umas partidas de xadrez em minha casa ou em sua juntamente com outros amigos. A estes encontros e saídas juntava-se muitas vezes a sua mulher, a Elsa (Elsa Rodrigues dos Santos).
Nunca me esquecerei de algumas indicações e segredos de ofício que me foram transmitidos por ele logo que observou os meus trabalhos. "Vagueia-se o olhar um tanto geometricamente em linhas até se encontrar um ponto virtual a partir do qual se redelineiam outras linhas. E a obra está a nascer". Foi mais ou menos por estas palavras que um dia me descreveu o difícil processo de enfrentamento da tela branca.
Se era costume ser tratado no respeitante à sua produção plástica por 'Mestre Figueiredo Sobral' nos círculos artísticos e intelectuais que frequentava, pode dizer-se que também revelou mestria nas letras (crítica, textos livres sobre arte, escrita para teatro e poesia; ver artigo no DN, 15/8/2010 por A.Lobato Faria). Foi sócio da SLP (Sociedade da Língua Portuguesa). Não deixarei por isso de o citar ilustrando assim a sua arte da palavra. Não esquecendo o habitual uso de poemas e palavras nas suas pinturas.