18 novembro 2010
Três poemas de Ruy Ventura
iluminação
que mão avança
no negrume dessa tinta
quando a carne brilha,
mesmo oculta nessa sombra?
a tinta não interrompe
a luz intensa
que do olhar
dirige esta viagem.
nem mar, nem vento
– nem essa brancura
que recorta os alicerces
e as paredes –
conseguem melhor voo
nesta tarde.
apenas essa mão,
velha (e perfeita)
segurando-nos
no ouro e na madeira,
esses olhos vigiando
a fortaleza
(pedra e sangue,
carne e tempestade) –
e o segredo de um nome
(o nosso nome)
escorando
nosso fogo
e nossa sede
distância
ao longe, o vidro e a madeira escurecem.
a macieira ilumina o quintal.
apenas pedra – e o comércio da água,
entre as muralhas e o sangue
há muito desaparecido.
a língua surge estranha ao corpo e ao olhar.
a represa recolhe os passos
que desenham a escada.
a fotografia espera-nos – tão perto.
a estela marca o espírito na terra,
o sopro do vento
nas confrontações da alma.
nada resta do palácio
nem do minério.
tudo ficou da longa mansão
onde o anjo resguarda o oiro
e a memória.
***
pedra
há linhas de fogo
atravessando a tela.
serão somente brilho
ou luz que secciona
a noite e as formas –
mas a tinta arde,
mantendo nos olhos
a essência da pedra
que a névoa protege
do vento e da cegueira.
[in Instrumentos de Sopro, Edições Sempre-em-Pé, 2010]
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