19 dezembro 2010

Firmino Mendes


Nasceu em Ronfe, Guimarães, Portugal, em 1949. É professor de Língua Portuguesa, na Escola Superior Artística do Porto. Para além de publicar poemas em diversas revistas, tem publicados em livro Ilha sobre Ilha (1993; Prémio de Revelação de Poesia da A.P.E., 1991), Fronteira Animal (1993), Invocação e Ofícios (1995) e Um Segredo Guarda o Mundo (1998).


 

Num jantar literário que reuniu, como habitualmente, algumas dezenas de sócios e amigos da SLP, Firmino Mendes brindou-nos com a sua poesia e ainda com uma dissertação, a que se seguiu animado debate, sobre a Carbonária Portuguesa, suas origens, principais activistas e acções desencadeadas.


UM HOMEM NO MAR


As notícias que chegam falam de um homem no caminho.
Pouco se pode dizer sobre um animal que ficou assim,
com os olhos voltados para as linhas verdes do pomar.


Dizem que um temporal lhes trespassou o coração, que
a sombra das árvores lhe tirou a luz das longas viagens.
mesmo assim, nunca se saberá por que morrem os homens.


Ontem, por acaso, caminhei para o mar. Toquei a concha
que, desde sempre, me esperava. Retirei-lhe o sopro das algas,
aquele engano verde que enlouquece os corpos coms sede.


Com os olhos para a madeira do barco que passava, parei e
vi a terra afogada. Um peixe pequeno tinha a graça da manhã.
Mais longe, no outro lado do céu, há uma bolha de poeira:
- um homem que escondeu o tempo para não ser visto.


(in «A Terra e os Dias", Pedra Formosa, 2000)

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